aftersun arde e queima, assim como a vida, mas deixa a marca de que vivemos

aftersun arde e queima como passar um dia na praia em que você só se dá conta do calor quando ele a única presença na sua pele à noite. e parece que o filme abraça a gente dessa forma, sua presença cálida e clara se constrói até ser arrancada de nós e ficarmos com a tela preta dos créditos.

o passar das horas e dos dias da vida ás vezes monótono, divertido, embaraçoso, equisito e curioso é um efeito em que diretora conseguiu transmitir com o ritmo do filme. ele expressa aquela sensação de que a vida está acontencendo e nem estamos dando conta até o passar dos momentos vividos se tornar uma memória.

e memórias são tudo o que temos quando alguém parte. a Sophie o espelho da protagonista, já que é um filme autobiográfico, tem seu suas questões adolescentes em evolução, amizades, primeiro beijo e um certo adeus à inocência revelados na tela com a nostalgia de uma foto analógica.

mas o ponto focal que a diretora parece ter trazido à tona é como cada artéria de memória ligada aos nossos, está pulsante dentro de nós. não importa ela qual seja, o reviver o passado torna-se uma tarefa de arrumar um quarto que já foi e é nosso ao mesmo tempo.

somos aquecido pelo amor delicado do pai demonstrado pelo cuidado genuíno, e a busca pelo bem estar da sua filha que vê no pai seu amigo, alguém que pode contar para ser seu abrigo e alegria.

de repente na última dança do filme embalada ao som de Under Pressure, nos damos conta que a noite caiu sobre nós, sobre os personagens, e as memórias.

a dor da partida se torna insuportável, acelerada, escura e brilhante ao mesmo tempo, são apenas flashs que se tem para agarrar ao último instante do ato de estar aqui.

“this is our last dance” bowie canta do espaço.

e por fim, é mesmo. a tela se torna preta, os créditos sobem, o quente da lágrima escorre, e percebemos que estamos mais quentes ainda, eu diria até queimados desse sol. sem questionamentos, apenas o estar ali e viver.